Formação

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

FEMINISMO E A LUTA POR CRECHES: POR AUTONOMIA DAS MULHERES E EM DEFESA DAS CRIANÇAS


Em um dos encontros do coletivo realizamos uma formação sobre a Luta por Creches, com a presença e contribuição de companheiras da UNIFESP que atualmente estão na luta por creche na universidade para as mães estudantes.

A partir da leitura de textos e do documentário "Mulheres em Movimento," discutimos como vem sendo a resolução do problema da falta de creches no Brasil.

A maior parte das perspectivas, inclusive nos textos lidos, consideram que a melhor solução seria a "autogestão" pela comunidade, com custeamento do Estado, pois acreditam que isso garante boas condições de infraestrutura, bem como participação da comunidade na gestão e na construção do projeto pedagógico.Este pensamento nada mais é do que a histórica luta pelo "controle social" das políticas públicas, que já temos visto que, no capitalismo, isso é inviável, pois o Estado é quem, por fim, estabelece as regras do jogo colocando dentro de seus aparatos de "controle social" as  ONGs e representações do próprio poder público que não constroem as lutas com a população,e que são grandes aliados do Estado por serem financiados pelo mesmo e por empresas.

O coletivo Anastácia Livre entende que o custeamento pelo Estado acarreta em cooptação de uma construção comunitária anterior. Entendemos que  não se pode depender da atuação do Estado e devemos ter a autogestão como uma possível forma de resolver o problema da falta de creches. Não achamos inválido que, na impossibilidade imediata de autogestão, a luta seja uma cobrança para que o Estado cumpra este papel, mas enfatizamos o quanto é importante que esta luta seja apenas um meio que tenha como horizonte os processos autogestionários e o fim do Estado, dando ênfase mais para os aspectos da construção dos caminhos a serem percorridos.

Para continuarmos com esta e tantas outras reflexões apontadas no encontro de formação do coletivo, estaremos no debate sobre Luta por Creche, promovido pelo movimento da Unifesp Guarulhos, no dia 16 de setembro, as 18horas.

Nos vemos lá para trocar idéias, debater e avançar na luta pela autonomia das mulheres, em defesa das crianças e por uma outra sociedade!  


sexta-feira, 18 de julho de 2014

POR UM FEMINISMO AUTÔNOMO

Encerrada (será?) a Copa da Fifa se intensificam os balanços sobre tudo que passou e sobre o seu legado.

Nessa toada, vale recordar o serviço a que se prestou a Marcha Mundial das Mulheres ao ir a público com uma Nota em defesa de Dilma Roussef, no contexto das vaias na abertura da Copa, sustentando que ela fora vítima de violência sexista e, buscando, assim, ao que parece, “pautar o feminismo” durante o mega evento.

Ao colocar a Presidenta no lugar de vítima, parecem querer ocultar que foi a própria Presidenta, por meio da opção do governo federal por trazer a Copa da FIFA para cá, fazendo dela símbolo e expressão do grandioso projeto neodesenvolvimentista que o Partido dos Trabalhadores capitaneia, quem colocou a elite brasileira branca e preconceituosa dentro dos estádios.

Contrasta com esse pronunciamento em defesa de Dilma Roussef, a ausência de qualquer ação ou manifestação de solidariedade, por parte da Marcha Mundial das Mulheres, quanto aos impactos reais provocados pela Copa da Fifa:
às mulheres pobres, negras e descendentes indígenas e latinas, habitantes das periferias urbanas, as mais atingidas pelos despejos ocorridos nesse período, por vivenciarem um verdadeiro "matriarcado de miséria", como alvos principais da perversa articulação do patriarcado, do racismo e do capitalismo;
às mães pretas e pobres das favelas e morros do Rio de Janeiro que viram intensificado o extermínio sistemático de seus filhos, afrontadas em sua maternidade e largadas à própria sorte sem qualquer amparo psicológico, graças ao "apoio" do governo federal ao estado do Rio de Janeiro com o envio de tropas das Forças Armadas e mais de 200 milhões para reforço das operações policiais de ocupação dos morros e ao descaso de Dilma com exigências como as já formuladas e pleiteadas pelo movimento Mães de Maio;



às mulheres pretas e pobres encarceradas e às familiares enfileiradas nas portas dos presídios, novamente, as mais atingidas pela política de encarceramento em massa, que opera um vertiginoso aumento da população prisional, em especial das mulheres, política esta não apenas não combatida pelo governo federal, mas apoiada por meio do Programa Nacional de Apoio ao Sistema Prisional, aprovado no ano de 2011, e ainda mais fomentada, com a legislação “de exceção” imposta pela FIFA, que todas sabemos, ficará e recairá, certamente, sobre a população marginalizada;

às mulheres trabalhadoras informais, que, aliás, são maioria nestes postos de trabalho mais precarizados, informação, inclusive, comumente veiculada nos materiais produzidos pela MMM, que foram impedidas de trabalhar nas proximidades dos espaços sedes da Copa e, portanto, de prover seu sustento e de seus filhos, graças à legislação imposta pela Copa de Dilma;

Violência sexista é o que todas nós e essas nossas irmãs das quebradas sofremos, não porque o “acesso ao espaço público” seja um “ato de ousadia”, mas porque sempre nele estivemos para sermos exploradas e para sermos controladas e violentadas (como continuamos a ser), pelo Estado brasileiro, capitaneado, hoje, por Dilma Roussef. 
O recurso ao discurso de defesa do “acesso da mulher ao espaço público”, tão comum nos movimentos feministas brancos e liberais, cumpre aqui o papel de legitimar o lugar de Poder Institucional que Dilma “acessou” – o Estado – espaço pelo qual, nós mulheres periféricas, pobres e negras, não nutrimos qualquer esperança, vez que se trata de uma estrutura somente capaz de perpetuar, como no mega evento da Copa da FIFA, as desigualdades sócio-raciais e de gênero que alicerçam a sociedade.

Violência sexista, portanto, é o que o Estado de Dilma comete e a defesa da Chefa de Estado é expressivo do "feminismo de Estado" em que a Marcha Mundial das Mulheres tem, sobretudo após a ascensão ao Poder do Partido dos Trabalhadores, se especializado, ao organizar-se como porta voz "das mulheres" e eleger uma plataforma central de "reivindicações feministas" (em que ficam minimizadas ou mesmo excluídas desse rol diversas demandas de "outras mulheres", que passam a ser etiquetadas como "demandas das mulheres, porém não-feministas"), atuando, assim, na tradução das "demandas feministas" em ações da política institucional, na forma reformas no sistema político-representativo, de inclusão nos órgãos políticos de decisão e de gestão e, também, na forma de planejamento, condução e fiscalização de políticas públicas e serviços. Tudo isso, por sua vez, revela um movimento cooptado pelas instâncias estatais, que não faz mais do que legitimar o Estado, fascista, que vem sendo aperfeiçoado por Dilma e a "esquerda" que governa o país.

Nosso Poder, ao contrário, é Popular, construído de baixo e de maneira autônoma; não temos ilusões com o "acesso" ao Poder Estatal!!!

FEMINISTAS PELO FIM DO ESTADO, DO RACISMO, DO CAPITALISMO E DO PATRIARCADO!

quinta-feira, 17 de julho de 2014

 
No final do mês de junho, "Ponte", grupo de jornalistas empenhados na veiculação de informações sobre Segurança Pública e Justiça sob o prisma dos Direitos Humanos, divulgou levantamento feito sobre confrontos com morte envolvendo policiais e demonstrou que existe uma verdadeira "Guerra silenciosa na Zona Leste de São Paulo"vez que em quase metade dos casos levantados o palco do extermínio policial foi a Zona Leste da capital paulista.
 
São homens jovens, pobres e pretos os mortos pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a égide de uma Política de Extermínio, que se acentua desde a década de 90, capitaneada todos esses anos por Antônio Fleury Filho (mandante do Massacre do Carandiru), Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin.
 
São mães pobres e negras órfãs que o Governo do Estado de São Paulo vem produzindo em massa,  quando não as faz mães do cárcere, nas filas ou dentro dos presídios, numa reprodução histórica do controle da maternidade que é exercida fora dos padrões brancos e domésticos.
 
O grito dessas mulheres, obrigadas pelo Estado a vivenciar a dor dessa perda, que transforma o luto em luta, como o que deram as "Mães [dos mortos] de Maio", em 2006, é o que vem, nas periferias e morros de todo o país, fazendo frente ao Estado genocida.
 
O Comitê pela Desmilitarização da Zona Leste se soma a essa luta e nós do Coletivo Feminista Anastácia também e reforçamos o convite, em especial às moradoras e moradores da Zona Leste.
 
 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

O dia em que Maria se deixou ser Maria ...

Por que as históricas rodas de prosa das mulheres negras sobre beleza negra (e padrões de beleza) contribuem para a luta de todas as mulheres contra o patriarcado-racismo?

Um relato de Maria Carolina, mulher negra e moradora da zona leste de São Paulo:

"O dia em que Maria se deixou ser Maria ...

Maria Carolina Farnezi
Entre cabelos crespos, pele negra e nariz chato, eis que então cansou de se sujeitar à amores escassos, tão condicionados e castos. Assim se pôs a amar, mas a si mesma, sem firulas e incertezas, se amou e assim se fez amada. Dos cabelos escovados, nasceu seu Black estilizado em meio a tanta negritude reprimida ... Se assumiu Maria, paradoxal e clandestina.
Uma semana atrás lhe disseram que ela era uma morena linda, de traços finos e corpo belo, ela sorriu um sorriso amarelo, mas na verdade chorou, e num ímpeto gritou, se pôs a gritar incessantemente ... É que Maria deixou de ser Carolina, se deixou ser Maria, só Maria, e foi –se embora. Deixando toda aquela gente a olhar sem entender ou entendendo, tentando se enxergar.
É que como outras meninas, desde pequena acreditava ser princesa, tipo cinderela, mas esqueceram de lhe dizer, que na favela gata borralheira não virava donzela, parecia que ser negra era sua mazela.
Foi nesse dia que o negro tornou-se intrínseco à Maria, que de tanto o ouvir, se enegreceu, exalando um político-gineceu em meio à poesia, se arrefeceu e aprendeu que Maria Bonita que é de verdade, que Maria também é liberdade".

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Solidariedade à luta das mães negras contra a prisão de seus filhos!

No dia 29 de abril, um jovem de 17 anos, preto, foi ilegalmente internado na Fundação Casa, por supostamente ter roubado um carro na região central da cidade de São Paulo.

Acontece que o garoto estava no apartamento em que reside com sua mãe no momento do suposto roubo. As câmeras do edifício registraram o trânsito do garoto nas dependências do prédio durante o suposto assalto, demonstrando que ele não foi o autor do crime.

Mesmo sem qualquer relação com o suposto crime ocorrido próximo ao edifício em que mora, o garoto foi ilegalmente abordado dentro de seu apartamento, após sua mãe abrir a porta para os policiais que bateram em sua porta e invadiram (sem ordem judicial) o apartamento à sua procura. Conduzido à Delegacia e sem ser reconhecido pela vítima, o garoto não retornou para casa desde então e sua mãe e irmã retornaram sozinhas e desesperadas com a prisão de seu ente querido.

Não bastasse toda ilegalidade cometida pela PM (a história pode ser mais bem compreendida aqui), o Promotor Público e o Juiz da 4ª Vara da Infância do Fórum do Brás conduziram o processo à reboque dessas ilegalidades e cometeram ilegalidades ainda mais graves: ante à fragilidade das provas - situação em que o juiz deve absolver a pessoa acusada - o magistrado determinou a internação do garoto, pedido também formulado pelo Promotor.

Por conta de todas essas ilegalidades e arbitrariedades do Sistema de Justiça Criminal, a mãe do garoto passou o Dia das Mães dentro do cárcere juvenil e comentou, em prantos: "São Paulo é capaz de injustiças que nem todas as mães do mundo juntas são capazes de evitar".

Hoje, após a luta incessante da mãe e da irmã do garoto, que recorreram a diversos parceiros para demonstrar a inocência de seu ente querido e angariar apoio, inclusive articulando a matéria disponível no link acima referido, a Justiça foi feita e o garoto foi liberado!!! (Veja aqui)

A realidade vivida por esse garoto e sua família e as ilegalidades cometidas por todos os atores do Sistema de Justiça Criminal, não nos enganemos, não foi uma mera coincidência e tampouco uma exceção. Essa história se repete sistematicamente na vida dos jovens pretos e pobres e das mães pretas há mais de 500 anos.

Toda nossa solidariedade à família que agora está unida novamente e toda nossa admiração a essas mulheres guerreiras que não se calaram diante das ilegalidades da polícia e do judiciário e enfrentaram esse sistema que serve apenas para perpetuar e aprofundar as desigualdades sociais, o racismo e o patriarcado.

Estamos juntas com essas mães e mulheres contra as injustiças e pelo fim das prisões!

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Dia das mães: um salve às mães periféricas e lutadoras!

Com atraso, mas ainda em tempo, breve relato de uma companheira de militância e mãe periférica sobre padrão de maternidade e a realidade de ser mãe nas periferias do capitalismo:

"Ah, só para fechar o dia:
Desculpem o incômodo mas com tantas violências cotidianas, em nossos partos, toda a exclusão que sofremos com relação aos nossos direitos, à moradia, educação, saúde , transporte, integridade física, à autonomia e etc etc...ou seja, somos deixadas para morrer pelo Estado. Abrigadas pela segurança da posse de nossos maridos, filhos ou namorados. Sofremos todos os dias com o medo e a insegurança. Somos violentadas pela sociedade que aponta "você deve ser uma boa mãe!", e isso significa se matar todos os dias para fazer milhares de coisas, ser escrava do trabalho domestico e do cuidado, ainda sim sair bem na foto igual as mães lindas-brancas-loiras-felizes que aparecem em quase toda publicidade. 

Sem alegria no dia das mães!

é preciso lembrar das curandeiras, das claudias, das mães torturadas, das mães de maio, das marias, das anastácias...

Mas obrigada aquelxs que sempre estão próximos para lembrar também que o cuidado é importante ser compartilhado e que lembram de mim no cotidiano!"
Relato de Agnes Karoline, publicado no dia 11 de maio de 2014, em: https://www.facebook.com/A.Lispector?fref=ts

quarta-feira, 7 de maio de 2014

UM ANO DE BLOG E TRÊS ANOS DE VIOLETA PARRA

Essa semana o Blog do Coletivo de Gênero Violeta Parra completou um ano de existência com mais de 3.000 acessos. Nosso coletivo existe desde 2011, e iniciamos nosso blog em 05 de maio de 2013, saibam um pouco mais sobre nosso coletivo no link:

http://coletivodegenerovioletaparra.blogspot.com.br/p/apresentacao-do-coletivo.html.

Agradecemos muito a todos que estiveram em nossas atividades e curtiram nossos textos, saibam que é graças a essas contribuições que escrevemos e continuamos mantendo a pauta de gênero constante, sempre associada a luta de classes.
Nesse um ano de Blog e três anos de Violeta Parra, postamos textos sobre a Violeta Parra, discutimos muitas lutadoras do campo, bem como as mulheres que deram suas vidas na luta contra a ditadura e aquelas que sofrem as consequências dessa “democratura”, sempre na tentativa de retomar suas memorias e suas lutas, com poesia, teatro, música etc..
Ajudamos a construir, junto a outros coletivos, a pauta sobre o machismo na esquerda e nos formamos nesse processo junto com os companheiros e companheiras que estão diariamente nessa luta conosco.
Sabemos que hoje a questão de gênero, infelizmente, é deixada de lado e ficamos muito contentes que esses textos, em sua maioria de construção coletiva, estejam cativando. Muito obrigado a todos e continuaremos postando mais textos, charges e poesia, porque nem só de pão vive o homem e a mulher! E a luta contra a opressão de gênero e de classe se dá todo dia!!
Coletivo de Gênero Violeta Parra