Formação

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Coletivo Anastácia Livre conversa com DAR sobre feminismo e antiproibicionismo

Foi publicada ontem, na seção Abre a Roda, a entrevista com o Coletivo Anastácia Livre feita pelo Coletivo antiproibicionista DAR (Desentorpecendo a Razão). 



A conversa permeou temas como as relações entre a luta contra a proibição das drogas e outros movimentos emancipatórios, o paradoxo das reivindicações por descriminalização de algumas condutas e a criminalização de outras dentro dos movimentos sociais, a relação entre drogas e violência de gênero, entre outros. Confira um trecho: 


Entre as principais críticas ao modelo proibicionista, está a denúncia de como a guerra às drogas é usada como pretexto para o encarceramento em massa, invariavelmente da população pobre, em sua maioria negra. Ao mesmo tempo, muitos movimentos emancipatórios, como o feminista e o LGBTT, reivindicam a criminalização como ferramenta contra a opressão, muitas vezes física. O que você pensa sobre a questão?


Aprendemos bem com a cultura da inquisição, com os regimes totalitários e com a moral cristã a lidar com os conflitos sociais a partir de duas premissas: extermínio e prisão! E essa segunda – prisão – até a esquerda tem indicado quando se depara com situações de violência, sem ao menos fazer críticas severas ao Sistema Penal e contextualizar a violência na sociedade contemporânea.

Esse segmento da esquerda, contraditoriamente, abarca um discurso de “justiça” que também é clamada pelo senso comum, solicitando o centro do mecanismo das opressões (o encarceramento) para minimizar sua opressão especifica, sem visualizar que se está pedindo uma prática opressora para acabar com a opressão que sofre. Isso porque o Sistema Penal é essencialmente seletivo e tem sede por massacrar especificamente os jovens, pobres, negros.

Para dar um exemplo, há uns dois anos, durante uma reunião de construção da Marcha da Consciência Negra de São Paulo, uma companheira pautou a importância de denunciarmos a situação em que adolescentes da Fundação Casa/Febem vivem, em vista de várias denúncias de familiares que vinham ocorrendo junto a Amparar – Associação de Amigos e Familiares de Presos/as, da qual estive compondo. Os movimentos presentes não deram muita importância aos fatos colocados, e para piorar, ao fim da reunião, uma mulher, negra, militante, disse a essa companheira que era mesmo errado praticar tortura nas unidades da Fundação Casa/Febem, mas que ela não admitiria ver solto um adolescente que furtasse o celular dela: “Se ele fez isso ele tem que “pagar”. O que esta militante do movimento negro não se recordou é que o adolescente que está lá preso não é branco. É justamente o negro, pobre e que por uma série de questões objetivas e subjetivas o levou a praticar o ato. No fim, esse desejo de “tem que pagar” era, portanto, para ela mesma, e para todos do Movimento Negro, que ela estava solicitando punição.

Solicitar maior punição é sempre um tiro no próprio pé (ainda mais em um contexto político de tolerância zero) e mostra ainda a superficialidade das lutas sociais que não estão se dedicando a colocar o dedo nas grandes feridas, nos grandes conflitos para assim refletir formas de superação destes. Há que nos dedicarmos em pensar em novas formas de Gestão dos Conflitos para o agora e para o futuro que desejamos.