Formação

segunda-feira, 9 de junho de 2014

O dia em que Maria se deixou ser Maria ...

Por que as históricas rodas de prosa das mulheres negras sobre beleza negra (e padrões de beleza) contribuem para a luta de todas as mulheres contra o patriarcado-racismo?

Um relato de Maria Carolina, mulher negra e moradora da zona leste de São Paulo:

"O dia em que Maria se deixou ser Maria ...

Maria Carolina Farnezi
Entre cabelos crespos, pele negra e nariz chato, eis que então cansou de se sujeitar à amores escassos, tão condicionados e castos. Assim se pôs a amar, mas a si mesma, sem firulas e incertezas, se amou e assim se fez amada. Dos cabelos escovados, nasceu seu Black estilizado em meio a tanta negritude reprimida ... Se assumiu Maria, paradoxal e clandestina.
Uma semana atrás lhe disseram que ela era uma morena linda, de traços finos e corpo belo, ela sorriu um sorriso amarelo, mas na verdade chorou, e num ímpeto gritou, se pôs a gritar incessantemente ... É que Maria deixou de ser Carolina, se deixou ser Maria, só Maria, e foi –se embora. Deixando toda aquela gente a olhar sem entender ou entendendo, tentando se enxergar.
É que como outras meninas, desde pequena acreditava ser princesa, tipo cinderela, mas esqueceram de lhe dizer, que na favela gata borralheira não virava donzela, parecia que ser negra era sua mazela.
Foi nesse dia que o negro tornou-se intrínseco à Maria, que de tanto o ouvir, se enegreceu, exalando um político-gineceu em meio à poesia, se arrefeceu e aprendeu que Maria Bonita que é de verdade, que Maria também é liberdade".